terça-feira, outubro 14, 2003

O TRABALHO (II)

Apesar de, em 1900, o trabalho ocupar cerca de um terço da vida e, hoje, apenas cerca de 20 % (considerando os fins-de-semana, férias e feriados), passou a ser visto como um prolongamento da existência, a concretização (forma de “realização”) da vida, um meio de expressão pelo qual nos tornamos assimiláveis aos outros, sem o qual nos sentiríamos excluídos socialmente.

Mas a realidade efectiva é que o trabalho nos acompanha muito para além das instalações físicas em que é desenvolvido, ocupando parte muito relevante das nossas mentes.

Em determinadas actividades, demasiadamente absorventes, entra-se num ciclo, simultaneamente “virtuoso” e “vicioso”: por um lado, numa sociedade que se fundamentará na “meritocracia”, o bom desempenho traduz-se em feedback (reconhecimento), re-alimentando, por sua vez, a necessidade de continuar a “investir” e a progredir na carreira (com subsequente “acréscimo” de reconhecimento); por outro, tal gera uma engrenagem da qual é difícil à pessoa individual conseguir libertar-se, a “vontade” / “necessidade” (de afirmação pessoal) tem reflexos numa espiral de dedicação ou envolvimento, cada vez mais consumidora de tempo e de disponibilidade mental.

A sobrevalorização do papel do trabalho, a competitividade exacerbada, fez-nos esquecer (!?) que uma sociedade, para se desenvolver, necessita também de outra coisas, desde a participação social activa, às actividades familiares, ao cultivar de um ciclo de amizades, até à vertente amorosa e, in fine, pessoal.

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