quarta-feira, setembro 10, 2003

VALE TUDO (?)

É um princípio filosófico que todas as acções podem ser analisadas como meios para obtenção de um fim, meta ou objectivo.

Quando, no século XVI, Nicolau Maquiavel escreveu o livro “O Príncipe”, um “manual de política” susceptível de diferentes interpretações, deu origem a um conjunto de princípios, que apelidamos de “maquiavélicos” e que associamos usualmente à ideia de práticas “astuciosas ou traiçoeiras”.

Maquiavel nunca terá chegado a escrever a sua frase mais famosa: “Os fins justificam os meios”; mas ela será o melhor resumo da sua forma de pensar (“um príncipe não deve medir esforços nem hesitar, mesmo que diante da crueldade, se o que estiver em jogo for a integridade nacional e o bem do seu povo”).

Porém, com aquela máxima, Maquiavel não quereria significar que qualquer atitude será justificável em função do objectivo; mas antes, que os fins determinam os meios; em função de um objectivo, serão traçados planos / etapas para os atingir.

Nos dias de hoje, os estímulos ao consumo e à competição (numa sociedade que, teoricamente, se fundamenta na “meritocracia”) levam a uma busca desenfreada de dinheiro, fama, poder e posição social.

No desporto, como na (competição da) vida, numa interpretação extensiva da referida máxima, os fins parecem justificar (todos) os meios.

A “pureza” do fair-play do futebol criado pelos ingleses “já lá vai” há quase dois séculos, mas, ainda assim, será possível ter a mesma satisfação/realização com uma vitória com recurso a artifícios “ilegais” (um golo com o braço) – mesmo que se reconheça que terá resultado de um “impulso momentâneo”, de uma grande “vontade” ou anseio de ganhar, da “pressão” do cronómetro a aproximar-se do final – que com a que decorreria de uma vitória “justa”? Não ficará sempre aquele “pequeno nó na garganta”, aquela “espinha cravada”? E se fosse “ao contrário”? O que iríamos dizer?

A finalizar, ainda mais uma pergunta (não inocente): será apenas por “brincadeira” que alguns “blogues” incluem “entradas” do tipo “neste blogue, não se fala deste e daqueloutro assunto…” (sendo o “assunto” os temas “sensacionalistas” ou com palavras-chave mais apelativas às buscas “googlianas”), ou “neste blogue, não encontrará fotos de…” ?

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