GUINÉ-BISSAU – PAÍS DE FUTURO (II)
A chegada a Bissau – para quem contactava pela primeira vez com a realidade africana – foi um “choque”, começando pelo clima tropical (um “bafo” extremamente quente, à saída do avião, no início de Janeiro, com o "ar pesado" devido ao elevado nível de humidade), pelas sumárias “infra-estruturas” do aeroporto; a primeira visita à cidade de Bissau não deixou de ser uma experiência “enriquecedora”: a singeleza da cidade, os seus edifícios degradados, em contraste com a “agressiva” dinâmica do trânsito automóvel (talvez com cerca de 60 % de “táxis”) e com a imensidão de gente que se acumulava à beira da estrada (entre o aeroporto e a cidade) e no “Mercado do Bandim” (se bem me lembro do nome), vendendo de tudo um pouco (principalmente produção agrícola básica, nomeadamente frutas tropicais).
Mas, ao mesmo tempo, a simpatia calorosa do povo guineense, a sua “reverência” para com os portugueses e o instinto de “portugalidade” que transportavam ainda (durante a semana, era fácil ouvir em espaços públicos a RDP Internacional; ao fim-de-semana, toda a gente vibrava com os relatos de futebol; na segunda-feira, discutiam-se as exibições do Benfica, Porto e Sporting como em qualquer localidade portuguesa…).
Um povo que aparentava contentar-se com pouco; não dispondo de uma infinidade de recursos materiais que temos normalmente no nosso dia a dia, mas, não obstante, um povo “feliz”. A esplanada da “Baiana”, numa das principais praças (“Che Guevara”, mesmo ao lado da EAGB) era o ponto de encontro da comunidade portuguesa, assim como o restaurante “Asa Branca” (se bem me recordo dos nomes, a esta distância temporal). Havia até uma discoteca “Kapital”!
A Guiné era um país absolutamente tranquilo, onde era possível, sem qualquer tipo de receio, andar sozinho na rua à noite (por exemplo, na estrada que ligava o aeroporto à cidade, tendo o Hotel a “meio do caminho”), sem qualquer iluminação pública, ou seja, completamente às escuras.
Nada indicava que, cerca de um mês depois, fosse desencadeada uma guerra, nunca completamente esclarecida, mas que terá sido despoletada tendo por motivação a defesa de interesses de um conjunto de militares. Foi um processo doloroso, em que a Guiné terá sofrido grande destruição.
Procurou-se depois instaurar um regime democrático, mas o processo tem sido muito complexo, desde logo com as divergências entre o primeiro-ministro do governo de transição e o Presidente da República (Kumba Ialá) e, mais tarde, com a morte do líder dos revoltosos de 1998 (Ansumane Mané).
Passaram cinco anos. Em que o país esteve “parado”. Um compasso de espera demasiado longo para quem tem tanto (quase tudo) por fazer.
Ontem, novo “golpe de Estado”, como sempre partindo dos militares; que interesses estarão na sua base? Quais os seus objectivos e consequências? Haverá condições para a realização de eleições minimamente livres? Poderemos esperar alguma evolução na democracia guineense no curto prazo?
Para que a Guiné-Bissau possa vir a singrar no contexto dos países da África Ocidental, para que seja um “país de futuro”, é absolutamente imprescindível (passe o pleonasmo e a evidência que se segue) que possa ser “bem governada”; não dispondo de particulares recursos naturais, é essencial que a cooperação internacional seja utilizada em proveito de todos os guineenses e do real desenvolvimento do país. É fundamental que haja estabilidade política que permita criar as condições para atrair o investimento estrangeiro. Não será uma tarefa fácil, mas depende principalmente dos guineenses!
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