“MENSAGEM” – FERNANDO PESSOA (V)
Vasco da Gama realizou a extraordinária façanha, o grande objectivo dos Descobrimentos: a conquista da Índia por via marítima (“Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra / Suspendem de repente o ódio da sua guerra / E pasmam”).
Este empreendimento teria naturalmente custos significativos, causando grandes sofrimentos, com muitas vidas perdidas:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”;
mas valeu a pena?:
“Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem de passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.”
O desastre de Alcácer Quibir, o mistério que envolve o desaparecimento de D. Sebastião deverá ser o impulso para o renascimento de Portugal:
“Não sei a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol em mim, e a névoa finda:
A mesma, e trazes o pendão ainda
Do Império.”.
Seguiu-se a perda da independência (“Senhor, a noite veio e a alma é vil”), mas é preciso acreditar que é possível renascer:
“Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.”.
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