“MENSAGEM” – FERNANDO PESSOA (I)
A ideia da predestinação nacional é central nesta obra, cuja apresentação farei nos próximos dias (como "Livro do Mês"), com excertos dos poemas de Fernando Pessoa; não se tratando embora da apologia do povo português ao estilo camoniano, faz-se sentir o valor simbólico dos heróis do passado e o apelo à utopia, para a "glorificação" de Portugal.
A “Mensagem” (livro de poemas, formando realmente um só poema) tem três grandes “andamentos”:
- na primeira parte, “Brasão”, o autor apresenta o Portugal profundo, o Portugal “rosto da Europa”, destacando os “construtores da pátria”, assim como algumas características indispensáveis à realização dos Descobrimentos;
- a segunda parte, “Mar Português, dá-nos uma fotografia, ao mesmo tempo épica e dramática, do que foi a grandiosa, mas dolorosa empreitada dos Descobrimentos (uma missão cumprida como missão divina, mas com um preço significativo, que leva à interrogação “Valeu a pena?”);
- na terceira e última parte, “O Encoberto”, defende-se a possibilidade da regeneração nacional pelo mito e pelos seus símbolos, mesmo se, em termos políticos, económicos, sociais e culturais, tudo pudesse parecer perdido…
Para o poeta, o mito sebastianista deve ser aproveitado, de forma a estabelecer a atmosfera espiritual necessária à realização do Quinto Império (“parte, antes, com a civilização em que vivemos, do Império espiritual da Grécia, origem do que espiritualmente somos. E, sendo esse o Primeiro Império, o Segundo é o de Roma, o Terceiro, o da Cristandade, e o Quarto o da Europa – isto é, da Europa laica de depois da Renascença”) – um Império não no sentido do guerreiro, territorial ou material, mas no sentido de um Império do Espírito e da Cultura.
A contínua actualidade da “Mensagem” faz pensar e renovar espiritualmente a "nação" portuguesa, constituíndo um incitamento ao reforço do seu papel no mundo.
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