“O DOSSIER DA VIDA”
A propósito de “Diário de Notícias”, em (mais uma) brilhante entrevista de Anabela Mota Ribeiro, hoje publicada no “DNa”, o Ministro do Trabalho e da Segurança Social, António Bagão Félix diz nomeadamente, entre outras ideias de grande beleza, que a vida do homem deve ter por objectivo responder ao “porquê?” e ao “para quê?”, mais do que ao “como?” e, mais adiante: “A felicidade não se faz querendo ter mais, faz-se querendo ter menos. Faz-se pela renúncia, não pelo excesso. Somos muito mais felizes quando temos de escolher.”.
Não resisto a transcrever um extracto da entrevista, em que Bagão Félix fala do “dossier da sua vida”:
“A quem é que tem vontade de mostrar isto? À sua neta, que tem meses?
- Tenho muita vontade. Também para lhe ensinar geografia, política… Tenho aqui o ranking das cidades, distâncias percorridas. Já dei o equivalente, pelo ar, a 22 voltas à Terra pelo Equador, ou fiz 2,3 viagens à lua.”
O mais extraordinário é que tenha tempo para esta contabilidade.
- É aquilo que lhe disse: quanto mais se trabalha mais tempo livre se tem. Que a pessoa não está num estado entediante.
Sabe estar sem fazer nada?
- Não. É preciso um esforço brutal para não fazer nada.
Deixe-me voltar ao momento em que de repente se sente invadido pela presença de Deus. Pode acontecer quando está entretido a fazer um destes gráficos?
- Sim, absolutamente. Vou-lhe contar uma coisa. Tenho duas semaninhas de férias, vou para o Alentejo; uma das coisas que estou a antever como mais “gozoso”?: actualizar isto, que já não actualizo há um ano e meio. Tenho aqui os nomes dos 123 aeroportos onde estive; roteiro de regiões, províncias, estados, territórios, ilhas e ilhéus; onde é que andei de comboio, de embarcação, de carro, de autocarro, de helicóptero, de trenó, de camelo.
A partir daí pode reconstituir-se a sua vida toda.
- Toda. Tenho tudo escrito.
Não tem segredos?
- Não, não gosto de ter. Gosto de partilhar conhecimento. Gosto de redistribuir tudo.”
Um retrato humano de um político, que “cultiva o espírito, a inteligência, a cultura, o saber”. Que interessante seria se decidisse ter um “blogue”…
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