quinta-feira, agosto 07, 2003

A EUROPA DAS LÍNGUAS (IV)

"Há países na Europa cuja política linguística se dirige exclusivamente à defesa e promoção de uma só língua, ou porque no território realmente só se fala uma língua e as diferenças linguísticas são pequenas, ou porque apesar de haver diferenças linguísticas importantes o país procura o monolinguismo como objectivo.

Os países verdadeiramente monolíngues são a excepção e não a regra. No seio da Comunidade, Portugal pode ser um exemplo, tal como a Áustria, que aderiu recentemente. No extremo oposto, e como exemplo de países que apesar de uma diversidade de facto se propõem o monolinguismo como objectivo, podemos considerar a França.

Em Portugal, como em qualquer espaço linguístico relativamente extenso, a língua culta comum a todo o país coincide com diferenças dialectais que podem relacionar-se com a história da língua, que se difundiu de norte para sul a partir da Reconquista Cristã aos Árabes e, em último lugar, com o substrato linguístico anterior à ocupação romana e difusão do latim, mas são diferenças pouco significativas. A única excepção que se pode apontar é o mirandês ou fala de Miranda do Douro, uma pequena povoação na fronteira com Espanha, onde se fala uma variante do dialecto hispano-leonês, vestígio do núcleo linguístico asturo-leonês.

Que o mirandês seja a única excepção é um indicador claro da uniformidade do espaço linguístico português. O que não significa que a língua portuguesa não tenha problemas com implicações políticas, mas estes referem-se à unidade da língua no plano internacional e aos esforços por conseguir um acordo para uma norma ortográfica comum."




“A EUROPA DAS LÍNGUAS”, de Miquel Siguan (coedição da Terramar com a SILC)

[137]

Sem comentários: