segunda-feira, julho 14, 2003

"O CADERNO VERMELHO" (II):

Na sequência das referências que tenho vindo a indicar, atrevo-me hoje a apresentar-vos um capítulo completo (!!!) de "O Caderno Vermelho" (Edições Asa), ou seja, uma das diversas histórias que o compõem:



“Na mesma ordem de ideias, embora abrangendo um período de tempo mais curto (alguns meses em vez de vinte anos), um outro amigo, R., falou-me de um livro marginal que ele tentava localizar sem sucesso, esquadrinhando livrarias e catálogos à procura daquilo que devia ser uma obra admirável que ele ansiava ler; e contou-me como, uma tarde em que fazia o seu caminho pelo centro da cidade, tomou um atalho para a Grand Central Station, subiu o lanço de escadas que leva à Vanderbilt Avenue, e viu de repente uma jovem ao lado do friso de mármore com um livro à frente dela: o mesmo livro que ele tão desesperadamente tentava encontrar.

Embora não tivesse por hábito dirigir a palavra a desconhecidos, R. estava demasiado atordoado pela coincidência para ficar calado. “Acredite ou não”, disse à jovem, “tenho andado à procura desse livro por toda a parte.”

“É maravilhoso”, respondeu a jovem, “acabei agora mesmo de o ler.”

“Sabe dizer-me onde poderei encontrar outro exemplar?”, perguntou R. “Não consigo explicar-lhe o que isso significaria para mim.”

“Este é para si”, respondeu a mulher.

“Mas é seu”, replicou R.

“Era meu”, disse a mulher, “mas agora já acabei de o ler. Vim aqui hoje para lho dar”.”


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